Joana Pitta vence 2ª Edição do "Prémio A Arte Chegou ao Colombo"
Joana Pitta foi a grande vencedora do prémio de arte contemporânea promovido pelo Centro Colombo. Esta foi a 2ª edição do “PrémioA Arte Chegou ao Colombo”, que este ano teve como tema as alterações climáticas e a sustentabilidade.
Com a escultura “Não estamos numa época dourada”, a artista reflete sobre o desconforto social, político e ambiental que se sente nos dias de hoje. Num trabalho em forma retangular e em tons e esverdeados, Joana Pitta criou lâminas que transparecem imagens recortadas com diferentes tonalidades inspiradas nas folhas da árvore sobrevivente ginkgo bilova. O trabalho lê-se olhando de baixo para cima numa tentativa de forçar o espetador a contemplar a finitude de outro ângulo. Já visto de frente, o trabalho sugere a poluição do ar e as mudanças climáticas, a atmosfera e os oceanos sobrecarregados de carbono.
Joana Pitta, nasceu em Lisboa, em 1993, e concluiu a licenciatura em escultura e o mestrado em multimédia (na vertente de Audiovisuais) na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.
No Paths – “De acordo com os Especialistas do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (International Panel on Climate Change (IPCC), o planeta tem apenas uma dúzia de anos para evitar um Aquecimento Global de 1,5oC, em comparação com o período pré-industrial.” (AID GLOBAL, 2018)
Face à problemática das Alterações Climáticas, surgem ao redor do globo cada vez mais artistas, que procuram através das suas práticas, integrar e fornecer uma
resposta sustentável aos desafios da contemporaneidade. No que me diz respeito, e após pesquisar sobre o assunto, descobri há cerca de dois anos, novos suportes provenientes da reciclagem, meios visuais interessantes para transmitir o tema da cidade (que desde sempre me tem acompanhado) e que proporcionam atitudes de reflexão sobre a sustentabilidade da nossa sociedade, baseada no consumo.
O trabalho agora apresentado a concurso, intitulado “No Paths”, é um desenho construído com a utilização de um perfurador sobre cartão canelado de uma embalagem, que utilizei anteriormente na proteção do meu pavimento de madeira, durante as obras de construção civil, no meu apartamento. O trabalho pretende questionar os caminhos e descaminhos seguidos pelas cúpulas das nossas sociedades, em relação às alterações climáticas (COPP27).
O desenho/objeto que construí, assemelha-se a uma grande passadeira realizada com 5 peças, atadas com cordéis umas às outras, com um total de 10m de comprimento e 0,450m de altura, onde se encontram reproduzidos, diferentes desenhos da calçada portuguesa. A peça pretende propor paralelo com a ideia de que a união de diferentes (e frágeis) caminhos podem ser a nossa única e verdadeira alternativa.
Uma postura de esperança? Talvez…
Ainda de Pé – A Greve Global pelo Clima é um movimento internacional de estudantes que faltam às aulas nas sextas-feiras ao participarem em manifestações para exigir ações dos líderes políticos a fim de evitar as mudanças climáticas. Esta casa de cartão, construída com os cartazes utilizados nas marchas realizadas em Portugal, é a representação física das frustrações, sonhos e vontades de uma geração.
Onde existem pessoas, existe a casa. O lar é tão essencial à existência humana que poderíamos dizer que são a extensão um do outro. A casa é ao mesmo tempo passado, presente e futuro; é construída sobre pensamentos, sonhos e medos. É uma das necessidades mais básicas e um dos direitos mais importantes, é o símbolo de um futuro seguro, é estrutura, felicidade e conforto.
Como cicatrizes, as costuras que ligam os cartazes demonstram uma dedicação e esperança desesperada por entre a brutalidade da realidade. Estes objetos carregados de intenções formam paredes e telhado, uma casa nascida entre o desespero e a esperança. Dentro existe luz, existe vida, mas essa luz trespassa e expõe as rachas escondidas na estrutura. Esta é um eco de uma casa, uma sombra do que poderia, deveria ser. A representação de um futuro que parece já estar no seu fim, mesmo antes de começar. Instável na sua estrutura, fraco nas suas paredes, mas que se mantém de pé, por agora. Incerto num mundo ameaçado pelas alterações climáticas e pela indiferença daquelas que mais deveriam agir.
É o símbolo da luta da nossa geração, uma luta pelo nosso planeta, pela sustentabilidade, pelo equilíbrio. O símbolo de uma juventude sem recursos, mas, que na mesma, luta. Luta por mais. Mais ação, mais prevenção, mais tempo, mais futuro, mais natureza, mais sustentabilidade.
Uma casa feita de desejos, mas construída sobre incertezas. Ainda aqui.
Ainda de pé.
Whisper to an open Wound – é um vídeo que resulta de um longo processo de pesquisa que examina criticamente a destruição de ecossistemas, do corpo humano e fatores de sustentabilidade.
O video é acompanhado por um áudio, estabelecendo um relação íntima com o espectador, num mantra visual e auditivo que é repetido sobre as múltiplas prespectivas da imagem e o do que ela poderá evocar no campo do real e do poético.
O vídeo é filmado numa área mineira, através de um drone que regista imagem em movimento de uma plataforma de água contaminada, exposta a céu aberto, revelando, entre outros aspectos, o impacto do homem sobre a paisagem e vice-versa.
Climate Holocaust – As alterações climáticas são a maior ameaça ambiental do século XXI, com efeitos nefastos e transversais a diversas áreas da sociedade, pois constituem uma das nossas maiores ameaças ambientais, sociais e económicas.
“Climate Holocaust” é uma obra que reflete precisamente sobre essa problemática. A frase que dá forma e título à peça, parte da reprodução em néon de cor branca, de um graffiti de autor desconhecido, largamente disseminado pelas ruas de várias cidades do mundo de forma reativa, perante as fragilidades ambientais decorrentes das alterações climáticas.
Contrariando a lógica efémera de uma mensagem escrita nas paredes de espaços públicos, esta obra tem a intenção de eternizar um slogan de protesto, e faze-lo assim, perdurar e reativar no tempo, de forma permanente.
Dependendo do contexto e da hora do dia em que é vista, esta obra ganha também outras leituras e significados: uma legenda da paisagem, uma realidade em mutação, um dogma, ou qualquer uma outra que o espetador adicione através do enquadramento que as suas referências pessoais suscitem.
Não estamos numa época dourada – Com a escultura “Não estamos numa época dourada”, a artista reflete sobre o desconforto, social, político e ambiental, que se sente nos dias de hoje.
O trabalho apresenta-se sob a forma retangular e em tons esverdeados.
As lâminas transparecem imagens recortadas com diferentes tonalidades inspiradas nas folhas da árvore sobrevivente ginkgo biloba. O trabalho lê-se olhando de baixo para cima numa tentativa de forçar o espectador a contemplar a nossa finitude de outro ângulo. Como uma meditação, o trabalho ecoa um padrão que dá indícios de água e as sombras produzidas sugerem a ondulação.
Já visto de frente, o trabalho sugere a poluição do ar e mudanças climáticas, a atmosfera e os oceanos sobrecarregados de carbono.
Recordam-se das estações do ano?… A primavera era primavera, e o outono era outono.
Parece que o tempo ganhou personalidade e tanto se tenta suster como se descontrola, parece que está de acordo com a nossa existência.
Com esta obra a artista consegue fazer o paralelismo das suas ações: faz, compra, imprime, pinta, recorta, cola, imprime, pinta, recorta, cola, imprime, pinta, recorta, cola… com o consumismo que observamos no nosso dia a dia.
Do caminho percorrido entre as árvores I, II, III e IV (série) – “Do caminho percorrido entre as árvores” (2021-2022), resulta da prática construída na relação entre a escultura e o desenho, sobre a ideia de arquitetura /não-arquitetura, sobre a construção de abrigos/não-abrigos – pelo duplo negativo, não são corpos, mas também não são arquiteturas. Por vezes são configurações, composições, disposições – anamnese – sobre o corpo e a sua relação com o meio envolvente / com a arquitetura/ com a paisagem.
Esta relação também existe – de duplo negativo – com a paisagem e é, sobretudo, no desenho que é possível perceber isso. Seja pela configuração, composição e disposição dos corpos – não corpos e abrigos/ arquiteturas – não abrigos/arquiteturas, assim, como o desenho de paisagem e reminiscências de experiências na própria paisagem.
A série “Do caminho percorrido entre as árvores” é uma obra em desenvolvimento, da qual foram selecionados para esta exposição quatro desenhos, que se relacionam entre si. Os desenhos são feitos com tinta-da-china, pó de carvão reciclado, óxido de ferro e aglutinante, sobre papel acid free.
Matérias Diáfanas – ‘Matérias Diáfanas’ parte de uma reflexão acerca das substâncias ínfimas que se imiscuem na atmosfera. É nesse corpo continuum que as sementes de flores silvestres, transportadas pela ‘mão do vento’, se confundem com as poeiras antropogénicas, vestígios de explorações mineiras e de metais pesados. As tentativas de rastreamento, desde a sua produção e consumo, até à decomposição no meio ambiente, tornam-se difíceis neste lugar dinâmico, onde a unidade da mistura constitui um corpo que penetra o mundo de forma quase imperceptível.
Parte I: Diversas cianotipias em larga escala formalizam uma ‘constelação’ de poeiras antropogénicas e sementes de dentes de leão que nascem espontaneamente nas áreas mais poluídas das cidades.
Todos os anos, quando as sementes brotam, colho-as durante meses. Uma parte é usada para criação das cianotipias. A outra é colocada dentro de recipientes vidro cuja forma se altera escultoricamente à medida que colho mais sementes e poeiras em cada ano que passa.
Parte II: Mapeio visualmente as coordenadas GPS de operações de mineração a céu aberto. Concebo esculturas em cartão canelado (numa escala próxima do ser humano e inspiradas em maquetes da engenharia de minas). Recolho escórias, filmo e fotografo as águas contaminadas de minas abandonadas.
Casa Comum – A ideia de casulo aponta para uma transformação em alguém melhor, para mudança, recomeço, efemeridade da natureza e conexão com a mesma.
Sustentabilidade exige transformação e mudança.
Um casulo remete também para o mergulho que se dá no próprio eu. Existe apenas o próprio corpo e o nosso eu interior. E para que serve um mergulho dentro de si?
Todos nós sabemos o que precisamos mudar, mas será que chegamos a agir para que isso aconteça? Cada um de nós devia ter como objetivo a aplicação de metodologias e conceitos de sustentabilidade e ecologia no dia a dia.
O casulo representa a nossa passagem pela Terra. Como também, um abrigo, um sítio protegido, uma casa.
A preservação do meio ambiente e o alcance de um mundo melhor e seguro começa em casa.
O planeta é a nossa casa. Não estamos a cuidar da nossa casa comum como devemos.
O processo de transformação pode ser proporcionado pela ação de cada um de nós.
Tem que haver essa necessidade de abandonar o velho casulo (o nosso eu irresponsável) para ir ao encontro de uma versão melhor de nós mesmos.
Um indivíduo isolado, pode mudar hábitos e contribuir para o desenvolvimento sustentável de modo a criar um mundo melhor. As ações de cada indivíduo devem beneficiar toda a sociedade.
Sustentabilidade implica um caminho e uma pegada que garante a vida / a casa das gerações presentes e futuras, por meio da conservação dos recursos naturais.
Abrigo – Ao longo do tempo, diversas gerações têm vindo a deparar-se com a brusca alteração e destruição da natureza, resultando em efeitos desastrosos no seu desenvolvimento e equilíbrio.
Pode-se, invariavelmente, constatar que a ação da humanidade em muito contribuiu para tal.
Recordo-me de sempre apreciar as árvores a crescerem gradual e naturalmente à medida que o tempo passava, comunicarem e interagirem sobre as formas mais espantosas, todavia, julgo que esses seres e habitats por eles criados nunca tiveram a oportunidade de alcançarem a sua plenitude, ou no seu espetro mais bonito, uma vez que este acabavam sempre por sucumbir, às tão supérfluas necessidades do homem, que as arrancava do seu lar, que as cortava impiedosamente, deixando para trás uma imagem prematura e tão aquém daquilo que poderia, outrora, ter sido.
Partindo desta reflexão, nasce o “Abrigo” com o objetivo de nos relembrar que proteger a natureza na sua forma mais embrionária, criando um abrigo isolado de qualquer ação que o possa destruir ou nele intervir, resulta na proteção de todos nós.
É urgente a necessidade de agir, salvar e cuidar do bem maior que dele nos resta.
Questionar as nossas ações até então, por de parte egoísmos e egocentrismos, sendo capazes de plantar para mais tarde ver prosperar. “A Natureza pode salvar-nos… Se a deixarmos!”
Entre o sagrado e o profano – A obra escultórica “Entre o sagrado e o profano” resulta – segundo uma perspetiva formal – de um reaproveitamento matérico, onde o ferro utilizado é proveniente do desperdício de uma escultura antecedente. Através do excesso e de uma simplificação estrutural alcança-se uma nova unidade. Para mediar essa singularidade, estabelece-se, em primeira instância, um processo de desconstrução/fragmentação e, num segundo momento, um processo de construção ancorado no preceito de reduzir tudo à sua essência.
Apela-se a uma sustentável leveza do ser, onde a sustentabilidade é subtendida através de dois domínios centrais: (i) a fase de construção e (ii) e montagem da obra no espaço expositivo. Relativamente ao segundo ponto, afere-se que a sustentabilidade é obtida através da suspensão da obra escultórica num canto, que induz o espectador a uma experiência hermética – a passagem do tangível para o invisível, o ponto de convergência entre o que é material e o que é espiritual. Se por um lado, o que é material – na obra – evoca o peso que lhe é inerente, por outro, a sua suspensão – ainda que parcial – apela à leveza, sendo igualmente apresentada a noção de singularidade como um todo – a unicidade enquanto experiência da totalidade e a totalidade enquanto resultado de um tempo que lhe pertence.
No final do dia tudo se resume ao tempo, tudo se resume à forma como o tempo se expande, sustém e intervém diretamente sobre nós. Contudo, assim como o tempo intervém diretamente sobre o ser humano, ele também intervém diretamente sobre a obra, e a oxidação é um reflexo direto dessa ação temporal e da mudança climatérica que a compele. A obra encontra-se em constante mutação. O ferro perde a sua cor original, perde a sua pureza, e a ferrugem apropria-se dele enquanto o mesmo continua no seu canto suspenso, no seu refúgio taciturno. Somam-se os dias e subtrai-se o tempo que ainda nos resta, tal como se tratasse de uma ampulheta – ampulheta essa que corresponde à visão frontal que temos da obra.
Prémio "A Arte Chegou ao Colombo" - 2ª Edição
“A Arte Chegou ao Colombo” é um programa de arte pública do Centro Colombo que, ao longo dos últimos anos, tem contribuído para a democratização da arte e da cultura através da organização de exposições de arte de qualidade em espaços públicos.
O “Prémio A Arte Chegou ao Colombo” foi criado em 2020, em resposta à pandemia Covid-19, com o objetivo de iniciar um novo ciclo através da criação de um projeto de apoio ao setor artístico em Portugal, dando assim um novo impulso à criação de arte contemporânea e um sinal positivo à sociedade numa fase de grande incerteza económica.
O “Prémio A Arte Chegou ao Colombo” é um prémio de aquisição, promovido pelo Centro Colombo e co-organizado pela State of the Art. As obras de arte vão ser avaliadas por um Júri constituído pelos representantes dos parceiros do Prémio: a Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva, a Fundação D. Luís I, o Museu Coleção Berardo, o Museu Nacional de Arte Antiga e o Museu Nacional de Arte Contemporânea.
O objetivo principal é incentivar os artistas participantes a criar uma obra de arte cujo denominador comum seja “Alterações Climáticas e Sustentabilidade”.
O Prémio tem periodicidade bianual e está aberto a todas as modalidades de artes plásticas e visuais.
Destina-se a artistas emergentes, maiores de 18 anos, de forma individual ou organizados em grupo, portugueses ou residentes em Portugal com um trabalho expositivo não superior a 10 anos.
As candidaturas deverão ser submetidas em formato digital a partir do próximo dia 10 de outubro. Após a aprovação da candidatura e posterior avaliação técnica, realizada pelos organizadores, o Júri selecionará até 10 trabalhos, que serão divulgados no referido sítio da internet, nas redes sociais do Centro Colombo, assim como na Exposição de Finalistas a decorrer em 2023 na Fundação D. Luís I. (Centro Cultural de Cascais).
De entre os candidatos finalistas, será eleito um vencedor, cujo trabalho seja considerado uma proposta criativa e inovadora no contexto nacional e internacional.
O público terá a oportunidade de votar na sua proposta finalista favorita através do sítio da internet. Através da votação pública, apurar-se-á a proposta mais votada que terá um peso de 40% no apuramento do resultado final. O voto do júri terá um peso de 60% no apuramento do resultado final. A proposta com mais votos será considerada vencedora do Prémio.
Cada finalista selecionado, individual ou coletivo, receberá uma verba de € 1.000 (mil euros), acrescidos de IVA, para apoio à produção do trabalho e sua apresentação na exposição de finalistas.
O vencedor do Prémio receberá uma verba de €10.000 (dez mil euros), acrescida de IVA.
Tratando-se de um Prémio de Aquisição, a obra vencedora irá depois integrar a coleção de arte do Centro Colombo.
Conheça o vencedor do concurso AACC 2020: Atelier Contencioso
O Atelier Contencioso, com a instalação de arte ‘Sopro’, é o grande vencedor da 1ª edição do ‘Prémio A Arte Chegou ao Colombo’, lançado com o objetivo de apoiar artistas emergentes.