Museu Nacional de Arte Antiga

29/03/2012 a 30/09/2012

As duas exposições, criadas especificamente para o projeto “A Arte Chegou ao Colombo” pelo historiador de arte Anísio Franco, conservador e diretor adjunto do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), integraram as tipologias pintura, escultura e múltiplas declinações das chamadas artes decorativas (têxteis, metais, cerâmica, mobiliário, entre outros), preservando a absoluta integridade e dignidade do principal museu nacional e das suas obras.

“Conseguimos unir dois universos que pareciam distanciados mas que têm muito em comum: O Mundo dos museus e os espaços comerciais.”
António Felipe Pimentel

Arte da Idade Média

A construção de Portugal, como Estado e Nação, insere-se num encontro de culturas e fés que convivem na Península Ibérica até ao final da Idade Média, ultrapassando as fronteiras do novo Reino, concluídas em meados do século XIII, com a conquista do Algarve. A exposição “Construir Portugal. Arte da Idade Média” constituiu uma fascinante narrativa do processo de formação do Reino, contada a partir da seleção de 31 peças do acervo do MNAA, datadas desde o séc. XIII: da conquista militar à formação das fronteiras, da cristianização do território à persistente sedução pela arte islâmica, das redes da devoção às da cultura e do comércio; formou-se e consolidou-se um país que não tardou a romper os seus próprios limites.

A exposição iniciou-se pela evocação do culto estrutural a Santiago mata-mouros, polarizado no grande centro de peregrinações galego, consubstanciando o ímpeto cristão sobre o Sul islâmico, que apenas desaparece politicamente com a tomada de Granada, em 1492. Não obstante, durante séculos, o confronto político e militar entrelaça-se com as trocas comerciais e culturais entre populações de ambos os cultos, convivendo, aliás, a um e outro lado das fronteiras talhadas pelo processo da Reconquista.

Parte substancial da produção artística (que a exposição ilustrou) refletiu, assim, formas híbridas – moçárabes ou mudéjares – nas quais se repercutiu a persistente sedução cristã pelo esplendor artístico da cultura muçulmana, mesmo que em contínuo recuo no terreno administrativo e militar. Na exposição foi, ainda, retratado o declínio da Idade Média, a consolidação das fronteiras políticas e das administrações régias e episcopais, processo global de enriquecimento e dinamizador da classe mercantil, estimulando o consumo de produtos sumptuários, muitos dos quais relacionados com novas práticas de devoção. Uma época mais intimista, na relação entre o crente e o Criador, e reativa face ao desmesurado enriquecimento ostentado pelas velhas ordens de implantação rural, que deram origem a um novo movimento monástico, de carácter urbano e mendicante, apoiado especialmente na pregação – tendo tido a exposição exemplos de peças provenientes dos principais protagonistas: Franciscanos, Clarissas e Dominicanos. As peças de arte expostas reforçaram o papel da Igreja como destinatária final do consumo sumptuário. No final da linha cronológica da exposição, as últimas peças de arte evocaram um tempo de preservação e transformação do saber, entre as ciências renascidas, de ocupação de um lugar central o saber jurídico, cimento essencial na construção do Estado, como hoje o entendemos: desde a ascensão da Dinastia de Avis, eternizada no Mosteiro-Panteão de Santa Maria da Vitória, Batalha, até à liderança centralizada, de um Portugal renovado, ousado e conquistador, projetando-se numa outra cultura e em novos saberes.

Desenhando o Mundo. Arte da Época dos Descobrimentos

A segunda exposição, “Desenhando o Mundo. Arte da Época dos Descobrimentos”, reuniu 31 obras de arte ilustrativas das viagens e contatos ultramarinos dos Portugueses ao longo dos séculos XVI e XVII. À imagem da primeira exposição, as tipologias presentes foram pintura, escultura e múltiplas declinações das chamadas artes decorativas (têxteis, metais, cerâmica, mobiliário, entre outros).

“Desenhando o Mundo. Arte da Época dos Descobrimentos” iniciou-se pela evocação da arte dita manuelina, espelho do otimismo e do orgulho simbólico na política expansionista, que foi tecendo uma extensa rede de entrepostos comerciais e de feitorias, do Golfo da Guiné à Ásia e à Flandres. Nesta malha − administrativa, financeira, jurídica e religiosa − gerou-se um fenómeno de transculturalidade, que absorveu os primeiros sintomas do Renascimento italiano, triunfando a exuberância formal, o luxo, o gosto pelo detalhe e uma curiosidade crescente pelos novos mundos que dia a dia se desvendavam.

Numa segunda fase, a exposição abordou o avançar do século XVI e a progressiva sedimentação do ambiente cultural que enquadrara a aventura da Expansão, numa adesão entusiasta à linguagem formal do Renascimento, mais adequada à cultura humanista e também à nova religiosidade, sofisticada e intimista, que então se designava de devotio moderna (a nova devoção). Na arte, sucede ao manuelino, com a sua exuberância, o comprazimento pelas composições de raiz geométrica e pelo naturalismo, como expressão formal.

SOBRE O MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

Criado em 1884, o MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga abriga a mais relevante coleção de arte do país: pintura, escultura, artes decorativas, portuguesas, europeias e da Expansão (da Idade Média até ao século XIX), incluindo o maior número dos considerados “tesouros nacionais”. Destacam-se: os Painéis de S. Vicente; a Custódia de Belém, de Gil Vicente; os biombos Namban; as Tentações de Santo Antão, de Bosch; S. Jerónimo, de Dürer; e o centro de mesa de Thomas e François-Thomas Germain.

SOBRE O MUSEU NACIONAL DE ARTE ANTIGA

Número de Visitantes

Mais de 110.000 pessoas (duas exposições, duração total de 5 meses).

Ficha Técnica

ORGANIZAÇÃO: Sonae Sierra / Centro Colombo

CURADORIA: Anísio Franco

PRODUÇÃO: MNAA – Museu Nacional de Arte Antiga

PROJETO DE ARQUITETURA: Manuela Fernandes