O Mundo Fantástico de Paula Rego

27/06/2017 a 27/09/2017

No âmbito da 7ª edição da iniciativa “A Arte Chegou ao Colombo”, o Centro recebeu, pela primeira vez, num espaço comercial, as obras de Paula Rego, uma das artistas portuguesas contemporâneas mais reconhecidas a nível mundial.

Paula Rego desenvolveu uma linguagem figurativa pessoal. É através do vasto universo das histórias – dos contos tradicionais portugueses aos contos de fada; dos romances da literatura portuguesa e inglesa, das peças escritas para teatro ou adaptações destas histórias para o cinema de Walt Disney – que a sua pesquisa figurativa pela via fantasia e da imaginação adquire, na sua obra, uma importância maior.

O universo das histórias está sempre presente na sua pintura narrativa e isso é assumido pela própria artista quando diz “A história inicial, de fora, permite-nos acordar histórias do nosso próprio mundo”. Todavia, este encontro com as histórias que se contaram nesta exposição – Jane Eyre, Pinóquio, Príncipe Porco, Gata Branca,  Peter Pan – nunca se traduz numa tentativa de ilustrar a palavra, a literatura, ou as imagens cinematográficas; mesmo quando a construção das suas narrativas pictóricas passa por uma relação direta com as histórias que vêm do universo literário, transformam-se noutras histórias ou ganham um novo sentido ao articularem-se, na tela ou no papel, com elementos e histórias que apenas à autora dizem respeito. Assim é porque a sua abordagem é marcadamente autoral e, muitas vezes, autorreferencial e, por esta razão, as obras deixam de se submeter, numa delineada estratégia de transgressão, às suas referências exteriores (aos textos originais).

As suas obras partilham simbolicamente os lugares e personagens convocados por essas imagens provenientes da literatura ou dos contos tradicionais, mas há, no entanto, sempre uma intenção transformadora, assumida pela artista, que autonomiza os seus trabalhos da história original.

Desenvolvida em parceria com a Casa das Histórias Paula Rego, a Fundação D. Luís I e a Câmara Municipal de Cascais, a Exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego” foi composta por um total de 59 obras, entre as quais “A Fada Azul e Pinóquio”, uma das mais significativas da artista. Esta obra esteve exposta apenas uma vez em Portugal, há cerca de 25 anos, no Centro Cultural de Belém. Além desta obra, a exposição apresentou outros trabalhos da artista, igualmente relevantes a nível nacional e internacional, entre os quais, a série “Príncipe Porco”“Study for the White Cat”“The Cigarette”“Quarto de Shakespeare”, a série “Jane Eyre” e a série “Peter Pan”.

Isabel Pires de Lima, Embaixadora da exposição, considerou que “esta exposição colocou todos em contato com o “Mundo Fantástico”, de vários pontos de vista de Paula Rego, na medida em que o seu trabalho plástico provoca uma diversidade de sensações e estimula a razão e a imaginação”.

Com um projeto de arquitetura arrojado, a exposição esteve patente na Praça Central do Centro Colombo durante três meses, tendo recebido mais de 225.000 visitantes nesse período.

Biografia

Paula Rego nasce a 26 de janeiro de 1935, em Lisboa. Oriunda de uma família republicana e liberal com ligações às culturas inglesa e francesa, ingressa, no ano de 1945, na St. Julian’s School, em Carcavelos, residindo durante a sua infância e adolescência no Estoril.

Incentivada pelo pai a prosseguir o seu desenvolvimento artístico fora do Portugal Salazarista dos anos 50, Paula Rego entra na prestigiada Slade School of Fine Art, em Londres, com apenas 17 anos, onde estudou entre 1052 e 1956. Aqui conheceu vários artistas, destacando-se o seu marido, o artista britânico Victor Willing (1928-1988), considerando-o o representante da sua geração pelo brilhantismo intelectual. Este artista, com quem veio a casar em 1959 e de quem teve três filhos, representou, desde o início da formação académica de Paula Rego, a sua referência tutelar, a ligação mais imediata ao panorama artístico da época. Entre 1957 e 1963, o casal e os seus filhos viveram na Ericeira, em Portugal.

Durante 1962 e 1963, Paula Rego foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) e, entre 1963 e 1975, viveu com a família entre Inglaterra e Portugal, acabando por fixar definitivamente a sua residência em Londres, no ano de 1976.

Lecionou como professora convidada de Pintura na Slade School of Fine Art, em Londres, em 1983.

Em 1988, realizou a sua primeira grande exposição individual na Serpentine Gallery, em Londres. Esta exposição marcou o início do reconhecimento de Paula Rego no panorama artístico português e inglês, e mesmo no plano internacional. Em 1990, Paula Rego foi convidada a integrar a primeira edição do programa Associate Artist Scheme, um projeto de residências de artistas contemporâneos na National Gallery, em Londres, produzindo uma série de obras que estabelecem uma relação direta com a coleção deste museu, das quais se destaca “O Jardim de Crivelli”. Desde esta década, a artista tem realizado diversas exposições individuais e coletivas, e tem sido frequentemente distinguida com variadíssimos prémios e distinções que refletem, precisamente, o reconhecimento de uma obra produzida ao longo de cinquenta anos.

Em 2009, inaugurou a Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, Portugal – um museu dedicado à obra de Paula Rego e Victor Willing, com projeto de arquitetura de Eduardo Souto Moura.

A sua longa produção artística dilui as hierarquias e a diferenciação entre a arte erudita e a popular, entre as belas-artes e as artes aplicadas, comunicando com o passado, pela via das suas habitualmente díspares fontes artísticas, mas abrindo-se sempre ao presente pela sua voz crítica e socialmente interventiva.

Atualmente, trabalha e reside em Londres.

TEATRO PETER PAN

No âmbito do projeto “A Arte Chegou ao Colombo” e da exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego”, o Teatro Experimental de Cascais foi desafiado a desenvolver uma peça inédita, inspirada numa das obras literárias universais mais conhecidas de todos os tempos “Peter Pan”. As personagens refletiram não só o lado mais místico e sonhador que lhes é inerente, mas também o lado cruel, caraterísticas da literatura e da série de quadros da artista Paula Rego “Peter Pan”.

A peça de teatro estreou no dia 9 de setembro, na Praça Central e contou com nomes bem conhecidos na arte da representação como o de Ruy de Carvalho (narrador), FF (Peter Pan) e Bárbara Branco (Wendy). Ao elenco de atores juntaram-se, ainda, dois jovens, vencedores do casting que foi realizado pelo Teatro Experimental de Cascais, em parceria com a State of the Art e o Centro Colombo.

Carlos Avilez, encenador desta peça de Teatro, considerou esta “iniciativa muito importante para o Teatro Experimental de Cascais”, reforçando que “para os artistas portugueses é muito importante existir estes apoios e (…) envolvendo também o nome da Paula Rego, é motivo de elogio”. O sucesso da peça foi tão grande que, mais tarde, foi adaptada e levada para cena fora de portas (novembro, Teatro Mirita Casimiro, em Cascais).

TEATRO PETER PAN

Sessão de Leitura

OINC – A HISTÓRIA DO PRÍNCIPE PORCO, DE ISABEL MINHÓS MARTINS

A edição de 2017 do projeto “A Arte Chegou ao Colombo” terminou com uma ação direcionada aos mais novos: sessão de leitura do livro “OINC – A História do Príncipe Porco”, de Isabel Minhós Martins com ilustrações de Paula Rego. Nessa sessão o livro ganhou voz da própria autora e dezenas de crianças tiveram a oportunidade de conhecer, em primeira mão e voz, a história de uma das séries de Paula Rego presentes na exposição.

Sessão de Leitura

Número de Visitantes

Mais de 224.500 pessoas (em 3 meses de exposição).

Ficha Técnica

ORGANIZAÇÃO: Sonae Sierra / Centro Colombo

PARCERIA: Casa das Histórias Paula Rego, Fundação D. Luís I, Câmara Municipal de Cascais

CURADORIA: Catarina Alfaro

EMBAIXADORA: Isabel Pires de Lima

CONCEITO & PRODUÇÃO: State of the Art

PROJETO DE ARQUITETURA: Diogo Aguiar e João Jesus

AGRADECIMENTOS: Coleção Brito e Abreu, Coleção CAF