Quatro elementos Quatro artistas

31/03/2011 a 26/10/2011

Em parceria com o Museu Coleção Berardo, um dos mais relevantes impulsionadores de arte moderna e contemporânea nacional, o Centro Colombo apresentou a exposição “Quatro Elementos – Quatro Artistas”. A exposição inspirou-se nos elementos da natureza – fogo, água, ar e terra – representados por quatro obras de arte de artistas portugueses de referência:

Fogo ‘‘Coração Independente Vermelho’’ Joana Vasconcelos

Ar ‘‘Google Plane’’ Miguel Palma

Água ‘‘Cinética do Silêncio’’ Susana Anágua

Terra ‘‘A Medida de Todas as Coisas’’ Isaque Pinheiro

Cada elemento representa um tipo básico de energia e consciência, operando em cada ser humano. Tal como a física moderna demonstrou que energia é matéria, os quatro elementos entrelaçam-se e combinam-se para formar tudo o que é vivo.

“Quatro Elementos – Quatro Artistas” pretendeu criar um ponto de partida para a reflexão sobre o que é a arte e a relação desta com os quatro elementos da natureza.

Joana Vasconcelos com “Coração Independente Vermelho”

A representar o elemento “fogo”, a exposição contou com a instalação da artista Joana Vasconcelos, composta por um enorme coração vermelho sangue, feito com milhares de talheres de plástico, a partir da técnica em filigrana e acompanhado com cinco músicas da fadista portuguesa mais marcante do séc. XX, Amália Rodrigues.

A instalação da artista Joana Vasconcelos, ‘‘Coração Independente Vermelho’’, mostra-nos as ambiguidades que a vida nos pode trazer: tanto podemos comprar objetos caros como um coração de ouro para o nosso amor sublimado, como podemos apenas sobreviver com talheres de plástico devido à sociedade de consumo.

Uma das suas caraterísticas mais evidentes, já que exacerbada, é o excesso: profusão de objetos. Nesta perspetiva, a dualidade representada sublinha a constante luta entre o nosso ser racional (o que precisamos ter) e o nosso ser emocional (o que desejamos ter).

Joana Vasconcelos questiona os visitantes, indo ao cerne da portugalidade: será que queremos continuar agarrados a um passado (fado e filigrana), ou queremos mergulhar neste mundo novo do consumismo?

“Os artistas têm a responsabilidade de pensar o mundo que os rodeia.”

Joana Vasconcelos

Joana Vasconcelos com “Coração Independente Vermelho”

Miguel Palma com “Google Plane”

A ideia de construir esta instalação surgiu a partir de textos que o artista Miguel Palma leu sobre a camuflagem dos aviões na segunda guerra mundial, onde os aviões pertencentes aos britânicos, norte americanos, alemães e japoneses eram pintados com esquemas e variações de camuflagem que pretendiam manter os aviões o mais indetetáveis possível ao olhar.

Ao utilizar imagens do google maps na decoração da parte de cima do seu avião e nuvens sobre um céu azul na parte de baixo, o artista deu uma visão atual e simbólica do “ar”. O ar, enquanto elemento essencial de sobrevivência biológica, mas também, enquanto ideia do infinito libertador do moderno sonho humano, comandado pela ciência tecnológica, que nos conduz a novos voos e nos leva a questionar as interpretações modernas do nosso espaço real.

“Se o mundo fosse confortável, eu não faria arte.”

Miguel Palma

Miguel Palma com “Google Plane”

Susana Anágua com “Cinética do Silêncio”

A instalação ‘‘Cinética do Silêncio’’ foi escolhida para representar o elemento “água”. A instalação foi criada no âmbito do concurso “7 Maravilhas de Portugal”, que decorreu paralelamente à declaração das “Novas 7 Maravilhas do Mundo” (New 7 Wonders of the World), em inícios de 2008. Esta instalação esteve também patente no Mosteiro da Batalha, fazendo uma analogia entre o movimento dos monges no claustro e o movimento da água no interior das mangueiras.

Tal como a água está em constante renovação na criação da energia elétrica nas barragens, a artista Susana Anágua pretendeu remeter o visitante para o paradigma da finitude dos recursos naturais. O elemento água, foi representado por três torres em aço com ferrugem envernizada (como uma simbologia do tempo que passa), remetendo-nos para um claustro moderno onde vivemos imersos na urgência de viver, mergulhados no stress quotidiano, unidos por um silêncio cúmplice que não sabemos onde nos leva. Com esta citação, Susana Anágua quis lembrar que o ser humano é como a água de um rio, que passa através de gerações. Transformados pela experiência da sociabilização, adaptamo-nos, momento a momento e, a cada instante, tornamo-nos outros, numa interação dependente, mas tão indispensável como o elemento água na manutenção deste claustro maior chamado “Terra”.

Susana Anágua com “Cinética do Silêncio”

Isaque Pinheiro “A Medida de Todas as Coisas”

Uma escultura que remete para o elemento ”terra”. Ao executar a escultura e ao citar o sofista Protágoras (487-420 a.C.) – “O homem é a medida de todas as coisas” – o artista mostrou, com o seu objeto de medição, que o ser humano tem de estar no centro de temas éticos como a dignidade, as capacidades humanas e, particularmente, a racionalidade. Por analogia, o homem é a réplica de tudo o que existe no universo, devendo a construção de um templo sagrado basear-se nas suas proporções, consideradas divinas.

Assim, com a sua intervenção num espaço comercial, o artista pretendeu problematizar a questão de como a ciência nos tem proporcionado medidas precisas de grandezas com diferentes escalas de valores. Com a exposição da sua escultura, Isaque Pinheiro provocou os visittais e sua consciência enquanto influenciador no estado do planeta, nas várias questões filosóficas inerentes à necessidade humana, ao papel da integração e importância de mecanismos sociais, e importância que o ser humano assume na origem de problemas ambientais.

“Fazer é pensar.”

Isaque Pinheiro

Isaque Pinheiro “A Medida de Todas as Coisas”

Biografias

Joana Vasconcelos nasceu em Paris, em 1971. Expõe regularmente desde meados da década de 1990. O reconhecimento internacional do seu trabalho deu-se com a participação na 51.ª Bienal de Veneza, em 2005, com a obra A Noiva (2001-05). Foi a primeira mulher e a mais jovem artista a expor no Palácio de Versalhes, em 2012. Outros momentos relevantes da sua carreira incluem a individual no Museu Guggenheim Bilbao (2018) e o projeto Trafaria Praia, para o Pavilhão de Portugal na 55.ª Bienal de Veneza (2013). Vive e trabalha em Lisboa.

Miguel Palma nasceu em Lisboa, em 1964. O seu trabalho artístico tem uma forte componente escultórica que se materializa frequentemente em instalações multimédia, performances, protótipos, maquetes, fotografias, vídeos e desenhos. Com uma carreira artística invejável, expõe regularmente desde 1980.

Susana Anágua nasceu em Lisboa, em 1976. Iniciou a sua formação artística na Escola Superior de Artes e Design (ESAD) das Caldas da Rainha, onde também leciona desde 2009. Doutorada em Processos Artísticos Contemporâneos da UERJ-Rio de Janeiro e Mestrado em Digital Arts pela Universidade de Artes de Londres (Camberwell College of Arts) as suas obras, que utilizam vídeo e escultura, marcaram presença em várias exposições importantes em Portugal e no estrangeiro. Vive e trabalha entre Lisboa e o Rio de Janeiro.

Isaque Pinheiro nasceu em Lisboa, em 1972, e é considerado um autodidata. As suas obras escultóricas são frequentemente criadas com suportes e materiais não convencionais. Participa regularmente em exposições individuais e coletivas em Portugal e no estrangeiro. Vive e trabalha no Porto.

Biografias

Número de Visitantes

Sem informação disponível.

Ficha Técnica

ORGANIZAÇÃO: Sonae Sierra / Centro Colombo

CURADORIA: Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Museu Coleção Berardo

PRODUÇÃO: Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Museu Coleção Berardo

AGRADECIMENTOS: Isaque Pinheiro, Joana Vasconcelos, Miguel Palma e Susana Anágua