A Influência do 9/11 no Cinema Apocalíptico

Poucos serão os que duvidam que todos os eventos que tornaram o dia 11 de Setembro de 2001 um dos mais negros da história da Humanidade e todas as guerras que nasceram em sua resposta, influenciaram de forma inolvidável uma geração de realizadores, dando origem a um novo movimento cinematográfico: o movimento pós-9/11.

O planeta passou abruptamente de um local tranquilo para uma jaula perigosa, instável e cruel. A insegurança aumentou, o perigo passou a espreitar a cada canto (Madrid ou Londres foram apenas algumas das vítimas seguintes do terrorismo) e a venda de armas e munições bateu recordes nunca antes vistos.

De um momento para o outro, o público em geral demonstrava maior empatia com a guerra, a violência e o desejo de vingança.

Por isso, não é de admirar que filmes pré-9/11 pareçam hoje muito mais “naif” e optimistas quando comparados com os títulos e géneros dos nossos dias, onde thrillers vingativos, obras de guerra e sci-fi apocalípticos revelam-se quase sempre campeões de bilheteira, batendo um lugar que antes era quase sempre ocupados por comédias, romances ou dramas intimistas.

Esteja presente por metáforas, simbolismos ou quebra-cabeças, o efeito pós-9/11 mudou inclusive a percepção e a necessidade dos espectadores em relação ao desfecho de qualquer blockbuster destrutivo que apareça: antes, um final feliz como o de “Armageddon” contentava o público; hoje teria sido um flop reactivo, pois são vários os testes de audiência recentes que revelam frequentemente total frustração para desfechos “irreais”. E, por “irreal”, o públicos demonstra que hoje é impensável pensar em guerras ou cataclismos globais sem incontáveis – senão mesmo irreversíveis – perdas humanas e materiais. E, deste modo, Hollywood e a indústria cinematográfica em geral não puderam ignorar esta nova realidade, bem como adaptar-se a ela.

As teorias da conspiração entram em quase todas as narrativas de forma minimamente credível

Assim, qualquer vilão é hoje visto na mente do receptor como um terrorista – até porque é trabalhado pelos guionistas nesse sentido. As teorias da conspiração entram em quase todas as narrativas de forma minimamente credível, porque elas próprias tiveram o seu espaço em todos os acontecimentos que assombraram os Estados Unidos da América nesse período negro da sua história. Os próprios filmes de super-heróis ficaram mais negros, baseando-se em sentimentos de vingança contra o mal e não apenas de justiça e moralidade para com o que é correcto. E, como nunca antes, os vilões super-heróis ganharam tanta ou mais importância nas bases estruturais da história que os protagonistas do bem.

Mas o que hoje é uma certeza, logo após o 11 de Setembro foi uma dúvida. Hollywood mandou adiar as estreias iminentes de filmes como “Collateral Damage” ou “Gangs of New York”, ambos com cenas comprometedoras que poderiam relembrar acontecimentos que muitos tentavam esquecer, mas a verdade é que não havia necessidade disso: o público, principalmente o norte-americano, estava sedento por vingança e via em obras como estas a sua resposta aos maus da fita.

Em suma, sejam produções milionárias de puro entretenimento e zero preocupações moralistas como os da saga “Transformers” ou blockbusters com mais conteúdo intelectual como “The Day After Tomorrow”, que nos deixam preocupados com o futuro do planeta e com o poder dos nossos actos, os super desastres globais tornaram-se populares no cinema.

Não há ano que passe sem uma mão cheia deles a dominar as bilheteiras e não há dúvidas que o seu sucesso a muito se deve à credibilidade que ganharam no fundo da nossa consciência quando demos conta que um ataque organizado com milhares de mortos como aconteceu a 11 de Setembro de 2001 é, de facto, algo possível de acontecer. Mesmo no coração da maior e, supostamente, mais bem protegida nação à face da Terra.

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