António Zambujo: o novo álbum, o ritmo brasileiro e as pessoas

Desde um simples cante alentejano a salas esgotadas pelo mundo fora. O famoso António Zambujo não só lança um novo álbum como assume um novo desafio, bem nacional: ser o primeiro cantor português a tocar nas nove ilhas dos Açores.

Nasceu a 19 de setembro de 1975, em Beja, já com o cante alentejano praticamente no ouvido. Chama-se António Zambujo e dispensa apresentações.

“O Mesmo Fado”, “Por meu Cante”, “Outro Sentido”, “Guia”, “Quinto”, “Rua da Emenda” e “Até Pensei que Fosse Minha” são álbuns que comprovam o sucesso do artista. Encontre-os na Fnac e Worten do nosso Centro.

O seu mais recente álbum, “Até Pensei Que Fosse Minha”,  é uma profunda e intimista homenagem a Chico Buarque, para a qual contou com a colaboração do próprio e que lhe valeu a sua primeira nomeação para um Grammy Latino. Agora e depois da consagração dos palcos internacionais, António Zambujo, acompanhado pela sua guitarra, abraça um novo e grande desafio: uma digressão, durante o mês de maio, pelas nove ilhas do arquipélago que arranca em São Miguel e que fará de Zambujo o primeiro cantor português a percorrê-las em concerto.

Como e quando começou a ouvir Chico Buarque e de que forma o artista brasileiro influenciou e inspirou o seu percurso musical?

Chico Buarque faz parte da banda sonora da vida de quase todas as pessoas que eu conheço. Sempre me influenciou muito, quer a obra quer a capacidade interpretativa, além da forma de estar e de pensar. Para quem a música brasileira tem um papel importante, Chico é um dos deuses.

De que forma surgiu a ideia de lançar “Até Pensei que Fosse Minha”? Como foi feita a seleção das músicas para este disco?

O “Até Pensei que Fosse Minha” foi pensado no Brasil, numa altura em que muitos concertos me fizeram passar longas temporadas no Rio e me deram oportunidade de estar mais próximo do Chico.  Foi uma fase de muita contestação, de muita guerra de palavras e de muita estupidez. Quanto à escolha dos temas, foi feita em conjunto com o Marcello Gonçalves (produtor musical e violinista de sete cordas), com o João Mário Linhares (produtor executivo e meu agente no Brasil) e com o próprio Chico, que deu algumas sugestões.

“João e Maria”, “Tanto Mar” ou “Geni e o Zepelim” são canções que contam com várias versões espalhadas pelo mundo. O que trouxe de novo às músicas de Chico Buarque?

A ideia foi homenagear o Chico. Não mostrar novos caminhos para as músicas. Não sei o que trouxe de novo, cantei da forma que as sentia.

Como tem sido a receção das pessoas a este trabalho lançado em 2016?

Tem sido muito boa. O que me deixa sempre muito feliz é ter as salas cheias e sentir que as pessoas saem felizes no final. Relativamente à parte pessoal é tentar ser honesto com o que faço e cantar e tocar o melhor que acho que posso. Sentir que as pessoas gostam do que faço deixa-me muito feliz.

O que mudou depois de ser nomeado para um Grammy Latino?

Rigorosamente nada.

Após 12 anos, Chico vai voltar a Portugal. Em junho espera estar com ele e mostrar-lhe um pouco do nosso país?

Gostaria muito mas não estarei em Lisboa nessa altura. Talvez consiga assistir a um concerto no Porto.

É muitas vezes influenciado pela música popular brasileira. Como vê a atual situação política e social do Brasil?

Vejo com muita tristeza. Sinto que as pessoas estão tristes, chocadas com tudo o que tem acontecido e ninguém é culpado de nada. Sinto que estamos a regressar aos tempos em que muitas pessoas lutaram para que hoje fosse diferente. Entristece-me e choca-me muito. O mundo todo está doente. Em Portugal também pintaram a fachada mas sinto que por dentro a coisa não está famosa. 

Já pensa no próximo disco? O que podemos esperar de Zambujo em 2018?

Já estamos a preparar o próximo disco que sairá no último trimestre deste ano. Será um disco de originais. Espero não só continuar a tocar e a cantar mas também que as pessoas gostem do que eu faço. Podem esperar-se muitas parcerias e muitos amigos novos, muita gente talentosa e muita felicidade por poder estar junto de todos. Estivesse o resto do país como está a música, e aí sim, ficaria feliz e descansado. É incrível a quantidade de coisas maravilhosas que se fazem.

Tocar nos Açores era um sonho antigo?

Desde o que dia que conheci os Açores!

É o primeiro artista português a tocar em todas as ilhas do arquipélago. Porque vai ser tão especial?

Essa pergunta assusta-me um bocado. Sinto que sou um daqueles portugueses que tenta entrar para o Guiness Book e não é nada essa a minha intenção. Não sei se sou o primeiro, nem é importante para mim. O importante é conhecer as ilhas todas e levar a minha música ao maior número de pessoas que a queiram escutar.

Do que já conhece dos Açores, o que gosta mais?

Apesar da óbvia beleza das ilhas, o que mais me encanta são as pessoas que me fazem sentir bem. Isso acontece nos Açores como em qualquer parte do mundo.

Como serão estes concertos? As pessoas vão poder esperar outras canções do seu repertório?

Os concertos a solo são sempre concertos menos rigorosos, menos disciplinados. Gosto de fazer por blocos, cantando as minhas influências até chegar às minhas músicas. Assim será nos Açores também.

Tudo o que precisa num único espaço