? Joseluis Rupérez: “Colecionar é uma doença para toda a vida”

É um dos maiores colecionadores de obra gráfica no mundo e são suas as 41 peças em exposição na mostra “Roy Lichtenstein e a Pop Art”. O colecionador espanhol falou connosco sobre o vício de colecionar, uma doença sem cura, mas também sobre a importância de expor, pela primeira vez, num centro comercial – sublinhando assim o caráter democrático da pop art.

Começou a colecionar arte gráfica depois do insucesso da primeira coleção, dedicada em exclusivo a artistas espanhóis, e por uma questão muito pragmática – são manifestações artísticas mais fáceis de guardar e menos dispendiosas.  Hoje em dia é o maior colecionador privado de pop art na Península Ibérica, nomeadamente das obras de Roy Lichtenstein. E são seus os trabalhos em exposição na Praça Central do nosso Centro, na mostra “Roy Lichtenstein e a Pop Art”, no âmbito da oitava edição d’A Arte Chegou ao Colombo.

Nesta mostra faz-se um resumo daquilo que foi a obra de Roy Lichtenstein em papel, sendo possível encontrar peças indispensáveis, desde a fase pin-up, com base em vinhetas de banda desenhada e com trabalho pontilhista, que foi o que projetou o artista; ou da fase dedicada a cartazes de eventos musicais, que reflete a sua multidisciplinaridade, já que o artista plástico começou por ser músico. Mas nesta exposição é também possível ver obras da fase Picasso, “que foi a sua obsessão desde criança, quando lhe ofereceram um livro deste artista. Inclusive, quando foi destacado para Paris, no final da Segunda Guerra Mundial, Lichtenstein aproveitou um dia de licença para ir ao Quay Saint-Augustin à espera que Picasso saísse de casa para o poder ver. Só que Picasso não saiu de casa nesse dia!”, conta Joseluis Rupérez.

O colecionador espanhol vê nesta exposição uma oportunidade única para os visitantes, mas também para si próprio, já que, pela primeira vez, mostra as suas peças num centro comercial, confirmando desta forma a ideia antiga, perpetuada por Andy Warhol, de que um dia os museus iriam converter-se em centros comerciais e os centros comerciais em museus. Afinal, não existe manifestação artística mais democrática do que a pop art, que defendeu sempre que a arte devia sair às ruas. “As obras de arte existem para serem partilhadas. Para um colecionador, o maior interesse é mostrar as suas peças, não é tê-las guardadas em casa. Queremos poder exibir a nossa coleção e que as pessoas digam que é uma coleção muito boa, que tem critério e que o colecionador é um tipo muito interessante. O que nós, colecionadores, queremos, é ser adulados.

Apesar de Roy Lichtenstein ter uma presença muito forte na coleção de Rupérez, este não se considera obcecado pelo artista norte-americano, ainda que o considere “indispensável” para qualquer colecionador de obra gráfica. E é isto que Joseluis Rupérez é.

O espanhol coleciona obra gráfica em geral, depois de uma primeira tentativa, falhada, no colecionismo, como recorda: “O colecionador é um tipo obsessivo e que quer sempre ter tudo para que a sua coleção seja única. Começamos de uma maneira inesperada e torna-se algo crónico e sem cura. Uma vez que temos esta doença, que apanhamos este vírus, é para toda a vida, não há remédio. Por isso, o melhor é rendermo-nos. Mas ninguém nasce com a carreira de colecionista, começamos de forma intuitiva e enganamo-nos. Eu também me enganei. Comecei por colecionar litografia espanhola e tinha uma boa coleção. Achava eu, pelo menos, até ter descoberto outro colecionador que tinha tudo. Aí percebi que a minha era uma coleção de segunda divisão e mudei para grandes artistas internacionais, sobretudo da pop art. Hoje tenho uma coleção muito grande, que inclui Roy, mas também Warhol, Chagall, Goya…”

Uma coleção feita à conta de muitos (e longos) namoros, porque isto de colecionar é, para Joseluis Rupérez, muito semelhante a uma relação amorosa. “O ato de colecionar é como cortejar alguém. Perseguimos alguém – ou neste caso uma obra de arte – porque nos agrada mas por vezes não é possível ter essa pessoa, ou essa peça. Aí começa um cortejo na tentativa de conseguir essa pessoa, ou peça. Isto faz-nos passar muitas noites em branco, porque a peça que desejamos pode ir a leilão do outro lado do mundo e há que estar acordado para a leiloar. Depois, quando finalmente conseguimos essa obra, sentimos uma grande satisfação – como quando conseguimos conquistar alguém que desejamos. Mas a satisfação não termina aí. A mim acontece-me muitas vezes descer à sala de minha casa onde tenho as peças guardadas e ficar ali, a tocar-lhes. Posso estar em casa e tocar num Picasso. É algo quase erótico. Em Espanha tivemos um colecionador muito importante – o barão Von Thyssen – que dizia que o colecionador não é nada mais do que um exibicionista, um tipo que procura abrir a sua gabardina no parque adequado.”

Até 23 de setembro, a Praça Central do nosso Centro é o parque adequado para conhecer a coleção de Joseluis Rupérez e descobrir o trabalho de Roy Lichtenstein. Não perca!

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