A moeda vista pelos olhos de quem a conhece bem

Decorre, até ao dia 5 de novembro, a exposição “Da Ausência de Moeda à Moeda Virtual’” na Praça Central. Fomos descobrir os segredos desta mostra com o seu curador, Nuno Valério, professor e coordenador científico do Gabinete de História Económica e Social, no Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa.

Como surgiu o convite para ser curador desta mostra?
O Gabinete de História Económica e Social do Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa tem realizado trabalhos ligados à comemoração de efemérides ao longo dos seus já mais de 40 anos de existência. Por isso, foi com naturalidade que recebemos a proposta da Unicâmbio para dar apoio à exposição sobre a história da moeda, à brochura sobre a história do mercado de câmbios e da Unicâmbio e ao colóquio sobre o presente e o futuro da moeda que assinalarão os seus 25 anos.

Como foi o processo de curadoria? Que cuidados teve na organização desta exposição?
Procurou-se conceber uma exposição que apresentasse as principais etapas da história da moeda no mundo e em Portugal, de forma acessível ao público em geral, conduzindo a uma perspetiva do que é a moeda no mundo de hoje.

Primeiro, houve sociedades humanas onde as trocas eram raras e o dinheiro não existia.

Quais os marcos fundamentais na história do dinheiro?
Primeiro, houve sociedades humanas onde as trocas eram raras e o dinheiro não existia. Depois, começaram a existir trocas mais frequentes, mas ainda sem dinheiro, aquilo que se denomina trocas diretas de mercadorias por mercadorias. A seguir, começaram a utilizar-se certas mercadorias para intermediários das trocas. Entre elas, os metais, sobretudo os metais preciosos, impuseram-se gradualmente como os mais convenientes. Mais recentemente, passou-se a usar notas de papel como meios de representar as moedas de metal precioso e depois mesmo como meios de pagamento puramente convencionais. Enfim, chegou-se à realização de pagamentos por transferência de depósitos à ordem em bancos, através de cheques, de cartões de crédito e de débito e de meras ordens eletrónicas.

O que o público pode ver durante estes dias na Praça Central do Colombo?
Os visitantes terão dois percursos, um que conta a história resumida na resposta anterior, outro que conta a história das várias unidades monetárias e moedas que existiram em Portugal. Ambos convergem para um centro, em que se apresenta a realidade da moeda nos dias de hoje.

A mais especial dependerá da sensibilidade de cada um, mas creio que muitos olharão para a que foi a primeira moeda emitida pelos reis de Portugal, o morabitino de ouro.

Vão estar várias moedas em exposição. Qual a mais especial e porquê?
A mais especial dependerá da sensibilidade de cada um, mas creio que muitos olharão para a que foi a primeira moeda emitida pelos reis de Portugal, o morabitino de ouro. Aliás, uma moeda que suscita dúvidas entre os especialistas sobre qual o reinado e a data dos exemplares mais antigos que chegaram aos dias de hoje.

Pode partilhar algumas curiosidades sobre o dinheiro/a moeda que o público, por norma, desconhece.
Talvez a mais interessante seja a reprodução de selos de autenticação de documentos oficiais dos primeiros tempos do Reino de Portugal nas faces nacionais das moedas metálicas de euro que hoje são emitidas em Portugal e todos os dias utilizamos. Quantas vezes olhámos com atenção para esses símbolos de uma nação que começava a afirmar-se?

Vivemos um momento em que o dinheiro virtual entrou definitivamente na vida de todos. Será que as notas e as moedas físicas vão deixar de existir?
Possivelmente não, embora seja natural que percam importância relativa e que mudem de forma e materiais.

A moeda aproveitará certamente todo o progresso tecnológico que não conseguimos antecipar. A questão mais interessante é, entretanto, a da possibilidade de uma economia futura sem moeda, como já houve no passado.

Depois da moeda virtual, o que acredita que lhe seguirá?
A moeda aproveitará certamente todo o progresso tecnológico que não conseguimos antecipar. A questão mais interessante é, entretanto, a da possibilidade de uma economia futura sem moeda, como já houve no passado. Chegará a humanidade a uma época com essas características?

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