Paula Rego já está no Colombo

Já inaugurou a exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego”. Uma mostra que se inscreve na sétima edição da “Arte Chegou ao Colombo”. Para ver até 27 de setembro.

“Estou muito contente por esta exposição”. A voz de Paula Rego ecoou no Praça Central do Centro e marcou a inauguração oficial da sétima iniciativa de “A Arte Chegou ao Colombo”, que este ano celebra a vida e obra daquela que é uma das figuras maiores da arte contemporânea a nível mundial.

Paula Rego não pôde estar presente mas enviou um vídeo, assinalando a importância desta mostra que permite fazer chegar a arte contemporânea a um público alargado. Foi com este vídeo que o diretor do Colombo, Paulo Gomes, inaugurou a exposição e deu as boas vindas a Isabel Pires de Lima, ex-ministra da cultura e embaixadora desta iniciativa; a Salvato Teles de Menezes da Fundação D. Luís, entidade responsável pela Casa das Histórias (Cascais); e a Catarina Alfaro, coordenadora da programação e conservação da já referida Casa das Histórias e curadora desta mostra e responsável pela visita guiada inaugural. E foram muitos os que não quiseram perder a oportunidade de conhecer, pela mão da especialista, as histórias que se escondem por trás de cada quadro.

Paula Rego tem feito um percurso que cruza frequentemente o universo das histórias pessoais com os contos tradicionais portugueses, com os contos de fadas, e também com a  literatura, o teatro ou o cinema infantil. E é exatamente por esta sua abordagem, pessoal, que as histórias ganham uma dimensão maior: “Muitas vezes aquilo que se descobre durante o processo de fazer o quadro estava escondido, a viver noutra área da minha consciência, e depois aparece no quadro”, disse a propósito do processo de criação.

Os contos tradicionais e os contos de fadas

A influência das histórias tradicionais na sua obra começa a manifestar-se logo no início do seu percurso artístico, por volta dos anos 1950 – 1960. No entanto adensa-se a partir de 1976, quando Paula Rego ganha uma Bolsa da Fundação Gulbenkian para aprofundar o estudo dos contos tradicionais portugueses e dos contos de fadas.

Para isso, a artista ruma aos museus e bibliotecas londrinos, reunindo um grande conjunto de imagens de contos, do século XVII ao início do século XX, que seriam posteriormente reproduzidos por si. Acredita-se que foi durante esta sua pesquisa que descobriu dois contos que a iriam inspirar a fazer as obras “A Gata Branca” e “Príncipe Porco”, ambas representadas nesta exposição.

A primeira é inspirada na obra da escritora francesa Madame d’Aulnoy (1650-1705) e conta a história de um príncipe que passa longas e felizes temporadas no palácio da Gata Branca. A dado momento, há um feitiço que tem que ser quebrado. E com temor, o príncipe corta a cabeça e o rabo dessa gata que, como por magia, se revela uma princesa de uma beleza ímpar.

Já o segundo quadro é inspirado numa coletânea de 75 contos recolhidos pelo escritor italiano Giovanni Francesco Straparola (1480-1557). Nesta história, uma rainha – novamente por capricho de uma fada – dá à luz um príncipe que é metade porco. Em adulto, ele vai casar sucessivamente com três irmãs. As duas primeiras são rejeitadas porque ele descobre que não o amam verdadeiramente. A terceira consegue provar o seu amor por ele, transformando-o num príncipe verdadeiro.

A literatura de Jane Eyre

O trabalho de Paula Rego também se cruza frequentemente com a literatura. Um desses encontros resulta nas litografias da série “Jane Eyre”, inspirada no romance de Charlotte Brontë. A obra conta a história de amor de Jane Eyre e Mr. Rochester. Para a conceção destas 25 litografias, apresentadas na exposição, a pintora recorreu às suas memórias na Ericeira, onde viveu durante longas temporadas entre 1960 e 1970, situando inclusive aí algumas cenas, como acontece no tríptico “Preparando-se para o Baile”.

O cinema de Walt Disney

Também o cinema de animação de Walt Disney exerceu sobre Paula Rego um enorme fascínio. Daí que quando foi convidada para participar na exposição “Spellbound: Art and Film”, na Hayward Gallery em Londres (1995), que assinalou o centenário da invenção da sétima arte, a artista tenha aceitado sem hesitar. Para esta exposição, Paula Rego inspirou-se em três filmes de Walt Disney: “Avestruzes Dançarinas”, “Branca de Neve” e “Pinóquio”. É na série deste último que se inscreve o quadro “A Fada Azul Segreda ao Pinóquio”, a grande estrela da mostra no Colombo. Nesta pintura ambígua, há uma fada de enormes pés assentes no chão que segreda a Pinóquio, mas o segredo parece não ser apaziguador. Pinóquio, aqui já menino e não boneco de madeira, está rígido como se ouvisse que o fim da inocência da infância estivesse a aproximar-se.

O teatro de Martin McDonagh

Em 2003, Paula Rego assiste à peça “The Pillowmen”, de Martin McDonagh, no National Theatre of London. A história impressiona tanto a artista que acaba por lhe dedicar um tríptico, também presente nesta exposição. Diz a artista: “Esta é uma história muito simples (…). Uma rapariga tem a seu cuidado uns macacos que se supõe estarem a escrever à máquina Shakespeare. Há um ditado em inglês (conhecido pela Teoria da Probabilidade como Teorema do Macaco Infinito) que se diz que se se der uma máquina de escrever a um macaco, ele escreverá e escreverá até acabar escrevendo Shakspeare. Foi feita uma experiência com uma sala cheia de macacos, todos teclando como loucos. A avó da rapariga ficou a tomar conta deles, tal como antes o fizera a sua mãe e aqueles macacos nunca produziram nada. Então ela acaba por matá-los a tiro”. E é este universo que é representado no tríptico em exibição nesta exposição.

Paula Rego: artista, mulher e mãe

Paula Rego nasceu a 26 de Janeiro de 1935 em Lisboa. Em 1945 ingressou na escola inglesa St. Julians, em Carcavelos, tendo passado a sua infância e adolescência na casa de família, no Estoril. Com 17 anos, muda-se para Londres onde estuda na Slade School of Fine Arts. É aqui que conhece o seu marido, Victor Willing (1928 – 1988). Em 1957 volta à casa de família no Estoril, onde vive com o marido e os filhos até 1963. Finalmente, em 1988, realiza a sua grande exposição individual na Serpentine Gallery, em Londres. Desde então tem ganho sucessivos prémios e distinções nacionais e internacionais que refletem uma carreira prolífica com mais de 50 anos. Atualmente, a artista vive em Londres, onde continua a produzir.

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