Cultura Paula Rego: “O meu mundo parece fantástico de fora, mas para mim não é fantasia” 14 Set 2017 Em entrevista exclusiva, aquela que é a maior embaixadora da arte contemporânea portuguesa, fala do seu trabalho e da exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego”, patente na Praça Central do Centro Colombo até 27 de setembroA viver em Londres desde os 17 anos, mas mantendo sempre uma relação de enorme proximidade com Portugal, Paula Rego nunca visitou o Centro Colombo. Mas não esconde a felicidade em ver o seu trabalho neste espaço e a surpresa em relação ao número de pessoas que já visitaram a exposição “O Mundo Fantástico de Paula Rego”. “Era bom que todos tivessem acesso a arte sem terem de pagar”, diz. Aos 82 anos, a protagonista da 7ª edição de “A Arte Chegou ao Colombo” continua a trabalhar quase diariamente e prepara uma nova exposição. Mas não revela pormenores, apenas que é o mar que lhe serve de inspiração. Normalmente a casa das artes é o museu, mas neste caso tem uma grande exposição num espaço comercial. O que significa, para si, ter uma exposição como esta na Praça Central do Centro Colombo? É uma oportunidade para que mais gente veja os meus quadros. Talvez, depois de visitarem esta exposição, até possam querer conhecer ainda mais obras e apanhem um comboio até Cascais para visitar a Casa da Histórias Paula Rego. Por acaso nunca visitei o Centro Colombo, mas é bom ser um espaço onde há muita gente para visitar a exposição. É um espaço onde também há pessoas que não vão aos museus ou às galerias de arte e assim podem ver uma exposição. Era bom que todos tivessem acesso a arte sem terem de pagar, porque a arte faz parte do património nacional. Expor os seus trabalhos num centro comercial representou um desafio acrescido? Não. A curadora Catarina Alfaro é que compôs a exposição. O meu trabalho já estava feito. A que se deve o nome “O Mundo Fantástico de Paula Rego”? O título está bem selecionado para esta exposição, mas mais uma vez não fui eu que o escolhi. O meu mundo parece fantástico de fora, mas para mim não é fantasia, não é tão fantástico como isso. O que diria às pessoas que já visitaram esta exposição, em jeito de explicação daquilo que a move enquanto artista? A explicação está nos quadros. A mensagem está na parede, é o assunto das histórias. Só desejo que o público goste. Nesta exposição está exposto “A Fada Azul Conta um Segredo ao Pinóquio”, um quadro que não era exposto em Portugal há 20 anos. Sente-se confortável com a ideia de alguns quadros seus estarem assim tanto tempo longe do olhar do público ou preferia ter toda a sua obra exposta publicamente? Não é possível expor tudo ao mesmo tempo. Mas é muito importante que os donos das obras as emprestem, quando necessário, para que possam ser vistas. Assim, toda a gente, rico ou pobre, pode ver as obras. Em relação a este quadro em específico… mostra um segredo muito grande que acaba por assustar o Pinóquio. Gosto muito desta obra. Que outras obras destaca desta nesta exposição? Cada pessoa tem o seu gosto, é impossível saber do que é que o público vai gostar mais…. Mas as que eu gostei mais de fazer foram as litografias da série Jane Eyre. A mostra já teve cerca de 200 mil visitantes. Estava à espera desta enchente? Não, nem por sombras! Ao longo da sua carreira, se tivesse que escolher seis quadros seus que mais a marcaram, quais seriam? E porquê? “Os Cães de Barcelona” porque é uma história muito importante, que tem a ver com o fascismo e com a traição. “O Macaco Vermelho Bate na Mulher” porque foi inspirado por uma história que o meu marido me contou e tem uma técnica muito direta. “O Pillowman” porque é inspirado pela peça de um grande escritor, Martin McDonagh, que me comoveu muito. A primeira obra da série “Mulher Cão” porque tem a ver com o meu marido e foi também quando comecei a trabalhar com pastel. Para terminar, diria o “Anjo”, que pode ser visto na Casa das Histórias, e representa a vingança e a ternura; e ainda o casamento da série “O Último Rei de Portugal”, porque tem a ver com o meu avô e envolve a Ericeira, onde D. Manuel II embarcou para o exílio. Sabemos que está a trabalhar em novas peças. Para quando a próxima exposição? E o que pode revelar acerca dessa mostra? Não sei… e não digo! Mas pode dizer o que mais a inspira neste momento da sua vida? Posso, o mar.