E se de repente um fã de iPhone se visse com um Samsung S7 Edge na mão?

Durante uma semana, tive de mudar os hábitos de vários anos. Não foi fácil. Mas será que fiquei convencido a mudá-los para sempre?

Uma discussão entre um fã da Samsung e um fã de iPhone é a única que consegue bater uma discussão entre um benfiquista inchado que acha que o Renato Sanches é o novo Ronaldo e um sportinguista que não compreende como é que o Bayern não deu antes 35 milhões pelo João Mário. Há outra discussão que quase iguala estas duas: a dos defensores do FIFA e do PES. Mas pronto, é tudo futebol e é tudo tecnologia. Vamos lá.

Declaração de interesses: sou um dos maluquinhos Apple, daqueles que têm todos os iProdutos que existem no mercado. Ainda assim, desafiei-me a andar com o novíssimo Samsung S7 Edge durante uma semana inteira, deixando em casa o meu iPhone 6 Plus. Admito que tinha alguma curiosidade em testar o gadget, tantas as maravilhas que havia lido sobre o telefone. Estava curioso mas ao mesmo tempo com os dois pés atrás, não porque não confie na qualidade do smartphone da Samsung, mas porque sabia que iria entrar num mundo novo, mais desconfortável do que o meu, que me iria obrigar a mudar os hábitos de mecânica do telefone, que já têm muitos anos (vêm da primeira versão do iPhone 4).

E a palavra luxo é, provavelmente, a que encaixa melhor quando queremos descrever a sensação de ligar pela primeira vez um S7.

No primeiro dia senti-me como aquele cliente de um hotel de luxo que está deitado na cama de luxo, com a cabeça a repousar em almofadas de luxo, mas que mesmo assim tem saudades da caminha lá de casa. E a palavra luxo é, provavelmente, a que encaixa melhor quando queremos descrever a sensação de ligar pela primeira vez um S7. A experiência é muito boa. A qualidade da imagem do ecrã é verdadeiramente impressionante (não ajuda eu ter um daqueles vidros de proteção no meu iPhone, que, quer se queira quer não, tiram sempre um bocadinho de definição ao ecrã), com cor, brilho e uma definição cristal clear. O sistema Edge é engraçado e deixa qualquer pessoa com curiosidade em ver como é que a coisa funciona. Quando o testamos sentimos que, de facto, é uma coisa útil e até nos parece estranho como é que nunca ninguém se lembrou de fazer uma coisa assim (ao fim de algum tempo a coisa muda um bocadinho, mas já lá vamos). Conclusão: a primeira sensação é empolgante, mesmo para um fã da Apple. O menos empolgante vem depois.

E o que é menos empolgante? É a dinâmica e organização das aplicações. Aquilo que qualquer utilizador mais valoriza (ou pelo menos deveria valorizar) é a experiência de utilização do telefone, a facilidade mecânica da coisa, no fundo, aquilo que faz com que um puto de dois anos pegue no telefone e consiga fazer o que quer (normalmente é chegar à app do YouTube, para ver vídeos de adultos a montar brinquedos, ou aos jogos de que gostam). Não senti isso no Samsung S7 Edge, mas também não senti isso em nenhum outro telefone Android que tive nas mãos, ou seja, não me parece que o problema esteja, de facto, no telefone, mas na dinâmica do sistema operativo. Nisso, sou completamente iOS. Ainda assim, achei que era uma coisa que iria durar dois ou três dias, até me habituar ao esquema do telefone, mas não foi bem assim. Ainda perdi algum tempo a tentar organizar o telefone à minha maneira, movendo aplicações de uns ecrãs para os outros, ou seja, no fundo estava a tentar torná-lo o mais parecido possível com um iPhone, o que só por si já diz qualquer coisa.

Ainda perdi algum tempo a tentar organizar o telefone à minha maneira, movendo aplicações de uns ecrãs para os outros, ou seja, no fundo estava a tentar torná-lo o mais parecido possível com um iPhone

Tudo isto acaba por se tornar secundário com o passar dos dias, porque a vida é feita de hábitos e a forma como nos orientamos a mexer no telefone é só um deles. O que é novidade mesmo é o ecrã edge, ou seja, com aplicações que podem ser puxadas da parte lateral do telefone. A funcionalidade é gira, dá vontade de brincar com aquilo durante algum tempo, mas tem um problema: é demasiado sensível. Mesmo quando não queria, volta e meia lá puxava as aplicações e elas apareciam-me sem terem sido chamadas (pelo menos propositadamente). Ao fim de alguns dias, o sistema edge tornou-se um daqueles brinquedos que recebemos no Natal e com que brincamos muito a 26 e 27 de dezembro e depois pomos a um canto para todo o sempre. Foi mais ou menos o que me aconteceu. Giro e tal, mas faz assim tanta falta? Não. É só uma funcionalidade, um extra que mostra que estes senhores da Samsung não dormem, mas na prática, e com o tempo, não acrescenta grande valor.

O que acrescenta grande valor é a nova câmara do S7. É de facto incrível. Com 12 megapixeis e um sistema de autofoco que permite tirar fotos com qualidade em vários ambientes diferentes, é sem qualquer dúvida uma das grandes mais-valias do telefone. Muita gente usa hoje o telefone como uma máquina fotográfica, até em viagens, e por isso uma boa câmara pode ser fator de decisão na hora da compra. Se for o principal, o S7 Edge sai na frente do iPhone 6 (vamos ver como será o 7).

O meu primeiro iPhone 6 Plus acabou por quinar dentro de uma mochila depois de uma garrafa de Powerade se ter entornado

Para falar daquela que considero ser a maior vantagem deste telefone relativamente a todos os outros prefiro contar uma história. Ou melhor, várias histórias numa só. O meu iPhone 4 morreu no Brasil, em Búzios, numa corrida às seis da manhã. O sol brilhava quando saí do hotel. Coloquei o telefone no armband, preso ao braço, phones nos ouvidos e lá fui eu. Meia hora depois, começou a pingar. De repente, caiu uma daquelas chuvadas tropicais que nem me deu tempo para me abrigar. Resultado: RIP iPhone. O meu iPhone 5 faleceu vítima de um copo de água entornado vagarosamente por cima dele por uma criança de um ano. O meu primeiro iPhone 6 Plus acabou por quinar dentro de uma mochila depois de uma garrafa de Powerade se ter entornado lá dentro, depois de uma corrida. Ou seja, eu sou a pessoa que precisa de um telefone à prova de água, e o Samsung S7 Edge é à prova de água. Só isso já justifica tudo. Aliás, o smartphone parece bastante robusto (admito que não fiz aqueles testes de o atirar ao chão para ver o que acontece), sólido e resistente. O ecrã foi reforçado, precisamente por causa das constantes quedas, mas, pelo sim pelo não recomendo sempre uma daquelas capas protetoras, de preferência de boa qualidade —custam mais 20 ou 30 euros, mas não servem só para enfeitar, protegem mesmo.

Num dia normal, às cinco ou seis da tarde tenho de pôr o iPhone a carregar

Mais coisas boas: a bateria. Talvez o maior defeito dos iPhones, a maior dor de cabeça dos utilizadores iOS, e um problema que, telefone após telefone, parece não ter solução. Quer dizer, ter tem, e a Samsung é a prova disso. Em média, a bateria do S7 durou-me mais 30 a 40 por cento do que a do iPhone 6 Plus. Num dia normal, às cinco ou seis da tarde tenho de pôr o iPhone a carregar. O S7 durava-me para todo o dia e era normal deitar-me com 12 ou 13 por cento de bateria. Claro que tudo isto é relativo e depende muito do uso que damos ao telefone, mas, no meu caso, foi fácil fazer a comparação, porque usei sempre apenas um telefone de cada vez, ou seja, não havia aquela coisa de ir mais à internet num do que noutro, ou usar mais um para jogos do que o outro.

Outra vantagem evidente do Samsung, sobretudo para quem usa os dois telefones, é a qualidade do som nas chamadas. Mais alto, mais definido, com menos cortes. Neste aspeto, a Apple melhorou imenso no salto do iPhone 4 para 5 e do 5 para o 6, mas continua um bocadinho atrás do maior concorrente.

Por não estar a fazer uma crítica ao telefone, mas sim uma crónica de uma experiência, não vou entrar por análises mais técnicas a todas as variáveis do S7, e são imensas. A sensação global é muito boa, mas, para quem tem anos de iOS a mudança pode parecer sempre um pouco desconfortável. É mais ou menos como aqueles primeiros dias de namoro com uma miúda demasiado gira. Aquilo é tudo ótimo, mas uma pessoa tem de se habituar aos olhares dos outros, tem de a conhecer melhor para saber aquilo que ela gosta, e com isso tudo não se consegue aproveitar ao máximo o que temos nas mãos.

É mais ou menos como aqueles primeiros dias de namoro com uma miúda demasiado gira. Aquilo é tudo ótimo, mas uma pessoa tem de se habituar aos olhares dos outros

Para acabar, dizer apenas que para lá do telefone testei também os óculos de realidade virtual Gear VR. Sinceramente, não fiquei fã. A ideia é ótima, muito do futuro da tecnologia vai passar por conceitos como este, mas ainda está tudo muito no início. Os jogos ainda não funcionam na perfeição, a mecânica é complicada, é tudo muito pouco intuitivo, as ligações nem sempre funcionam, ainda há pouquíssimo software disponível, e o que há não é brilhante, por isso, este brinquedo vai dar para impressionar algumas pessoas (a minha mãe, a minha avó e a minha tia ficaram maravilhadas com a viagem de montanha russa) mas percebe-se que há ainda um longo caminho a fazer nesta tecnologia.

*O Samsung S7 Edge e os óculos Gear VR foram gentilmente cedidos para este trabalho pela loja Phone House, do Centro Comercial Colombo.

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