Ricardo Gomes: “Esta experiência abre perspetivas diferentes de ver a realidade” ?

A propósito de “Vieira da Silva. Exposição Imersiva na Obra da Artista” – na Praça Central do Colombo de 26 de junho até 26 de agosto – fomos ouvir o arquiteto responsável pela conceção do museu digital temporário: Ricardo Gomes. Foi este arquiteto, juntamente com o colega de profissão Ben Allen e com o curador James Bae, que fundou a plataforma multidisciplinar KWY.studio, em 2009.
Os projetos da KWY nascem de colaborações entre os fundadores e especialistas convidados. Sem preconceitos iniciais, cada projeto tem o seu início com o diálogo e análise entre os diversos parceiros. Uma metodologia que conduz frequentemente a pensamentos inovadores e inesperados. Foi assim mesmo que nasceu toda a estrutura para a 9.ª edição de A Arte Chegou ao Colombo. Fique com a conversa na íntegra que tivemos com o arquiteto e conheça o que está por detrás deste museu digital temporário. Mais abaixo, também pode ver um excerto da conversa em vídeo.
Como é que este espaço se funde com a obra de Vieira da Silva?
Ricardo Gomes: Fizemos uma análise à obra de Vieira da Silva e definimos três tipologias que nos interessava explorar em termos espaciais. Cada um dos três espaços tem características diferentes: o espaço triangular, com uma perspetiva acentuada; o espaço sala, que tem uma perspectiva errada, também muito frequente na obra de Vieira da Silva; e depois o espaço chaminé ou o espaço torre, que transmite a ideia de altura e de distância vertical. A partir desse momento, pensámos em como organizar esse espaço de forma a relacioná-lo com o da Praça Central do Colombo. E depois, obviamente, que houve também um diálogo com os Oskar & Gaspar, de forma a perceber-se como esses espaços deveriam ser manipulados, alterados ou desenhados para chegarmos ao que aqui está. Há um trabalho muito grande de modelação espacial, tentar criar espaços que são, primeiro, um reflexo da obra de Vieira da Silva e, depois, uma tela em branco para voltar a receber a obra dela. Para nós foi o mais interessante.
Há alguma obra em particular de Vieira da Silva que os tenha inspirado?
RG: Quando visitámos a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva pela primeira vez, houve uma obra em particular, a Atelier Lisbonne de 1935, que é, no fundo, a primeira obra da Vieira da Silva que contém as indicações de que a obra dela se vai tornar espacial. No fundo, essa obra em si já contém um dos espaços que aqui está. A própria Vieira da Silva – pelo que nos foi explicado pela curadoria da Fundação – sempre considerou esta obra como contendo aquilo que seria o futuro da obra dela, tinha todos os ingredientes ou componentes daquilo que depois veio a ser a sua obra.
Quanto tempo demorou todo este processo?
RG: Julgo que aproximadamente três meses. O processo foi complexo, envolveu muita gente, os Oskar & Gaspar, a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, o próprio Rodrigo Leão. Portanto todas essas variáveis, digamos, participaram na definição do mesmo. Do início até ao fim, o projeto sofreu muitas alterações, não tanto do ponto de vista geométrico, mas mais do ponto de vista da construção, dos materiais e dos detalhes…
Por que vale a pena visitar a exposição?
RG: Também para o programa do Centro Colombo esta é, de facto, uma nova experiência: a ideia de não mostrar a arte no sentido mais clássico, mas co-produzir uma experiência. Além de oferecer às pessoas uma visão muito interessante e muito curiosa sobre a obra de Vieira da Silva, esta experiência também lhes abre perspetivas diferentes de ver a realidade. Acho que a experiência imersiva – o título da exposição – é interessante também pelo aspeto imersivo em si, ou seja, quando se sai daqui e como se vê a realidade depois de se ter esta experiência. Por isso, é de facto uma oportunidade única e convido toda a gente a visitar durante o tempo da exposição.
E agora que o convite está feito, fique com o excerto da entrevista ao arquiteto Ricardo Gomes: